17 de fevereiro de 2012

Mithwen Samway

A pequena elfa de corpo esguio e mira tão impressionante quanto sua aparência nasceu na floresta de Reikwald. Teve uma infância ordinária, sem eventos merecedores de atenção, nada além das doenças comuns de toda criança pequena, dores de ouvido, de barriga, resfriados e outros males comuns. Ela não tinha uma saúde nem frágil nem excepcional.

Ela cresceu ao lado de seu irmão gêmeo, Mithlond. Eles eram absolutamente idênticos e se estivessem vestidos com roupas idênticas, a única maneira de diferenciá-los era através da voz, o que causava freqüentes confusões. A voz dela, desde muito nova, era um contralto rouco e sensual. A dele um tenor límpido e cristalino. Ambos tinham estatura mediana, corpo esbelto e esguio, olhos e cabelos negros como a noite e pele tão clara que parecia reluzir ao sol.

Lá pela metade de sua adolescência, seus pais os mandaram para um acampamento de treinamento chamado Pimeä Metsä, na parte mais escura e sombria de Reikwald. Pouco ou nada eles falam sobre os anos que lá passaram, mas só de olhar para eles dava para perceber as mudanças.

Mithlond tornou-se forte, com tronco e ombros largos e musculosos, ágil como o vento, silencioso como a névoa e seus belos olhos negros adquiriram uma profundidade desconcertante. Seus olhos, cabelos e trajes negros lhe conferiram a alcunha de Synkäjoutsen, que na língua antiga quer dizer Cisne Negro. Tanto sua aparência quanto o silêncio que ele agora mantinha lhe conferiam um ar sombrio e intimidador. Sua voz agora raramente era ouvida, nunca mais cantando e nas poucas vezes que era ouvida, jamais se erguia mais alto que um sussurro.

Já Mithwen não endureceu de todo, como seu irmão. Tornou-se, sim, outra figura misteriosa e sombria, mas volta e meia sua voz era ouvida. Em dias de neblina, de tempestade ou noites de lua nova, um lamento triste cantado em uma língua já há muito esquecida era ouvido ecoando pela vila. Ela era chamada de Häjädonëzyst, literalmente “donzela sombria” na língua antiga.

As únicas pistas sobre o que aconteceu em Pimeä Metsä foram os equipamentos que de lá trouxeram consigo. Ele vestia uma armadura de batalha completa, com grevas e manoplas, toda laqueada em negro e com a rosa negra de Morr no peito, sobre o coração, em alto relevo e o símbolo de seu signo, a Linha do Iluminador, em prateado nas costas de suas luvas. Seu elmo foi forjado com a aparência de um demônio rugindo ameaçadoramente por dentre as presas fechadas. Uma espada larga apoiada casualmente sobre seu ombro e uma capa negra esfarrapada em suas costas completava a aparência sombria.

Já Mithwen vestia um pesado manto negro com capuz que mostrava sinais de muito uso, sua beirada tocando levemente o solo e apagando quaisquer rastros que ela pudesse ter deixado em terreno macio. Por baixo do manto, um corselete de couro batido cor de avelã protegendo seu corpo, vestido por cima de uma sobreposição de duas camisas, uma castanha esverdeada e a outra de um castanho intensamente escuro, quase nova. Ela também vestia calças de couro tingido de castanho esverdeado, botas resistentes cor de terra molhada, bastante marcadas pelo uso, mas muito bem cuidadas, e luvas de couro macio cor de avelã. Portava um arco de manufatura élfica, leve e resistente e uma aljava com flechas pendurada nas costas. Seu vestuário em tons escuros era o menos desconcertante de sua aparência como um todo.

Seu cabelo antes negro como a noite, brilhava como prata fiada, tão claro que parecia branco ao sol. Seus olhos também haviam se tornado peculiares. Seu olho esquerdo permanecia igual, negro como a noite conforme era comum em sua família, mas o direito havia se tornado cinza azulado. Ela não gostava de discutir o assunto, e a única coisa que disse quando questionada sobre o assunto foi “Magia.” e permaneceu reticente, nunca desvendando o mistério. No dia de seu retorno eles acabaram tendo que responder muitas perguntas, de seus parentes, amigos e familiares, mas Mithlond limitou-se a permanecer ao lado de sua irmã em silêncio, enquanto ela respondia tudo como podia, mas não mencionara em momento algum mais detalhes sobre o acidente que a havia mudado.

Alguns anos depois, os dois saíram juntos escoltar uma pequena caravana de mercadores até a junção da estrada que saia de sua vila até a estrada principal. Quando retornavam, o cheiro acre de fumaça invadiu suas narinas e eles ficaram alerta, apressando o passo em direção a seu lar. Conforme iam chegando mais perto, o clarão alaranjado ia ficando mais e mais intenso e eles corriam cada vez mais rápido, sem se importar com os espinhos e galhos que fustigavam seus rostos e enroscavam em suas capas conforme iam abrindo caminho pelo mato.

Quando finalmente chegaram, Mithwen caiu de joelhos, sua visão se turvando pelas lágrimas. Sua vila estava completamente tomada pelas chamas. Sem exceção, todos os prédios queimavam. Casas, templos, armazéns, celeiros e enfermarias, nada havia sido poupado.

Gotas de suor escorriam por seu rosto quente. Ela estava com os olhos fechados, tentando absorver o que havia visto. De repente, um rugido gutural a tirou do estupor e ela olhou alarmada ao redor. O que ela viu a deixou por alguns segundos sem ação. Seu irmão segurava sua imensa espada com apenas uma das mãos e trocava golpes com um monstro horrível.

Ele tinha o corpo enorme, muito maior que seu irmão, com mais de 2 metros de altura, coberto por pelos castanhos, cascos à guisa de pés, garras afiadas, chifres retorcidos e dentes afiados. Apesar da aparência pesada, era muito mais rápido e ágil do que parecia, o que dificultava para Mithlond efetivamente causar algum dano no monstro.

Mithwen sacou o arco, puxou uma flecha da aljava e mirou entre os olhos da monstruosidade. Quando ia soltá-la, ouviu um rugido grave vindo do meio do mato e se virou para encarar outra criatura, um pouco menor que a primeira, mas tão horrível quanto.

Sua flecha encontrou destino certo, atravessando o pescoço do monstro e o fazendo gorgolejar sangue, caindo morto alguns segundos depois. Vários outros monstros surgiram do meio da floresta enquanto seu irmão trocava golpes com o que ela achava que era o líder dos monstros. Quando finalmente eles desistiram de atacá-la, ela preparou uma flecha e a segurou, mirando na cabeça do líder.

Não foi sem uma exclamação de dor e, acima de tudo, surpresa que Mithlond caiu sobre um joelho no chão, uma das mãos cobrindo a área sobre seu baço, que sangrava abundantemente. Mithwen mirou com cuidado sua flecha entre os olhos do imenso monstro que ameaçava a vida de seu irmão, mas não foi rápida o suficiente. O monstro golpeou seu irmão no rosto, arrancando e destruindo seu elmo e lhe deixando três rasgos no rosto, fazendo com que ele caísse desmaiado.

A flecha deixou o arco no instante que as garras tocavam a pele de Mithlond e acertou seu alvo em cheio. Ambos caíram, ele e o monstro. Mithwen reuniu todas as suas forças e o arrastou dali até a cidade mais próxima, parando no caminho apenas para fazer um ocasional curativo em Mithlond ou para lhe dar alguns goles d’água.

Vários quilômetros ela percorreu, mas a esperança de que seu irmão vivesse a manteve firme e, chegando finalmente à cidade, ela encontrou um templo de Shallya, onde as sacerdotisas que ali estavam lhes guiaram até uma enfermaria, onde lhes foram oferecidos cuidados. Seu irmão sobreviveu graças ao conhecimento de um cirurgião que soube fechar corretamente o imenso corte em sua barriga, mas seu rosto nunca se recuperou totalmente e ele ficou deformado. Três linhas grossas de cicatrizes lhe cortavam o rosto, lhe deixando ainda mais assustador.

Como sua vida toda, seu passado, havia sido destruída, decidiram deixar tudo para trás e recomeçar a viver na cidade. Mithwen e seu irmão conseguiram ganhar o suficiente para sobreviver trabalhando como escolta profissional para caravanas de mercadores. Freqüentava a taverna mais pé sujo do local à noite e às vezes se apresentava como cantora para ganhar mais uns trocados.

Nenhum comentário: