26 de abril de 2012

O Arco

Vestidos, armas, joias, armaduras e bugigangas de todos os tipos transbordavam pelas barracas espalhadas a perder de vista na larga rua do comércio. As lojas ao ar livre competiam ferozmente entre si pela supremacia de um campo de batalha que nada devia aos dos grandes exércitos.

As armas? Todo o barulho que os mercadores eram capazes de fazer para chamar a atenção sobre a qualidade e preço de seus produtos. Entre os combatentes desfilavam os juízes-alvos dessa guerra, portadores do prêmio máximo: as reluzentes moedas de ouro, prata e cobre protegidas em seus bolsos e mochilas.

Entretanto, os transeuntes em questão agiam antes como caçadores do que prêmios de disputa: negociavam, pechinchavam, observavam e selecionavam com parcimônia onde exatamente concederiam algumas de suas moedas em troca de peças de valor.

Claro, nesse jogo alguns se saíam melhor do que outros.

Afinal, um dia é da caça, outro do caçador.

- 10 peças de ouro por um simples chapéu de viagem??? Ele é feito do quê, seda élfica, por acaso?

Imersa no mar de verdadeiros e pretensos negociantes, uma mocinha rechonchuda e de olhos matreiros procurava onde gastar seu dinheiro e se desfazer do que já não tinha serventia. Insatisfeita com o que encontrara até ali, voltou sua atenção para o lado que vendia armas e armaduras.

Já que entrara de cabeça nessa vida de aventureira, tanto por escolha quanto por fatalidades, precisava ao menos garantir sua defesa pessoal. Olhou para o próprio arco e suspirou, decidindo-se.

- Nunca se sabe quando os anões não vão estar por perto, não é?

Lembrou-se da inocente Andrine, a nobre associada a eles, e do arco que ela possuía. A elfa exalava elegância por todos os poros, e isso incluía suas armas. Quando punha-se em prontidão eram como uma só entidade.

Já Hilde sentia-se deslocada com o arco que carregava, parecia que não funcionavam em harmonia. Claro, ela não era nenhuma elfa mestra em armas como Andrine ou Mithwen, mas não acreditava ser tão destrambelhada assim. A verdade é que não fazia ideia do que causava tal desconforto e não se sentia motivada a perguntar a alguém do grupo só para ouvir que era falta de treinamento. Tinha certeza que com um arco melhor as coisas poderiam ser diferentes.

- Um arco que combine comigo... - segurou a própria arma com as duas mãos, prestando atenção aos detalhes...inexistentes – É, acho que isso aqui não combina com nada.

Enquanto caminhava, pensava em como seria esse arco ideal se realmente existisse. Primeiro, não seria em nada parecido com o de Andrine, pois elas eram mulheres totalmente diferentes, embora simpatizasse sinceramente com a elfa de rubor fácil.

- Uma madeira forte e mais leve do que essa, com o espaço pra segurar fechando certinho na minha mão. Essa corda também parece que vai arrebentar a qualquer momento se eu puxar mais forte, podia ser mais firme...não passa muita confiança.

Riu para si mesma enquanto analisava o objeto, ciente de que precisaria mandar fazer uma peça única se quisesse um arco assim, e isso seria um pouco mais caro do que estava disposta a pagar no momento. Mas como sonhar é de graça, não havia problema em continuar.

- Ah, se vou pensar em tudo isso, ele também teria voltinhas para fora nas pontas e a madeira seria avermelhada. Pronto! - abriu um sorrido satisfeito com seu perfeito arco imaginário, o que seria o suficiente por enquanto.

Mas qual não foi sua surpresa ao virar o rosto na direção de uma das barracas e dar com o objeto de seus sonhos tranquilamente exposto entre outras armas da mesma família?

- Mas hein? - piscou, sem acreditar imediatamente na veracidade da visão. Atravessou a rua a passinhos rápidos e tiro-o do suporte sem cerimônia, comprovando com o próprio toque: não só a aparência, mas a leveza do corpo e firmeza das cordas também eram como imaginava. Impressionante!

- Interessada na arma, moça?

Apenas um detalhe era diferente. Reconheceu o 'X' gravado na parte de trás das pontas ornamentadas, e sorriu olhando para o céu. Era bom saber que não estava sozinha.

- Ah sim. Parece perfeita pra mim!

Como não se brinca com o Deus da Sorte, Hilde pagou o preço justo pelo arco impossível sem nem tentar barganhar. Mas não precisaria mais do antigo, por isso exibiu-o ao vendedor com as pompas de uma peça moralmente inestimável.

- O senhor já ouviu falar dos Heróis de Dorfmark?

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