16 de setembro de 2012

Pesado grilhão chamado tradição

De certa forma foi um dia angustiante. Queria acreditar ser pilhéria de meus pais, mas infelizmente não era.

O petricor ainda estava forte, pois há pouco havia chovido. Meu vestido estava úmido por causa dos borrifos das gotas de chuva que batiam no chão adornado por tijolinhos de pedra azulada e eu rumava para meus aposentos com o intuito de secar-me e trocar de roupa, quando, ao passar pela sala de reunião de minha casa, ouço sem querer, uma conversa entre meu pai e minha mãe. Uma conversa que mudaria o rumo da minha vida, do meu destino.
Tratavam de meu casamento.
Fiquei em choque, como se meus pés sumissem, pois não podia acreditar que eles estavam fazendo aquilo, acabar com a minha liberdade.
Meu prometido? Um jovem visconde de nome Eldilor, que eu nem sabia que existia e isso não mudou nada nos anos seguintes. Mas quem era esse petiz?
Mesmo não sendo educado, invadi a sala e incrédula perguntei se o que acabara de ouvir era sério e a resposta não me agradou. Tentei argumentar, mas foi tudo em vão. A ideia já estava fixa e meus pais já haviam acertado todos os detalhes com os pais do rapaz. Era uma boa união para ambas as famílias, o negócio perfeito, pois as duas eram importantes na corte do Rei Fênix. Nos anos seguintes sempre tentava mudar a opinião deles e cheguei até mandar cartas para meu noivo na esperança dele desistir da ideia e nada. Estavam irredutíveis.
Fiquei doente, evitei participar de festejos e me isolei.
Havia perdido o viço da juventude e a alegria de viver, mas a esperança de me ver livre dos pesados grilhões de um compromisso surgiu na forma de uma viagem diplomática para o Império humano. Fui sem pensar duas vezes e sem olhar para trás, almejei com isso que todos esquecessem tal acordo.
Começaria uma nova vida entre os humanos.   

                                                                       ***

A viagem seguiu aprazível, adorava a brisa marinha tocando minha face e o barulho das ondas e pássaros marinhos que faziam sua revoada de migração ou de caça. Sentia-me a vontade em alto mar, pois minha família era conhecida por ser a melhor construtora de navios e barcos entre elfos e humanos.
Aportamos em Reikland e seguimos para a Floresta de Laurelorn, o lugar onde, por um erro de cálculo, eu nasci. Prestava atenção em tudo durante a viagem por terra, aquilo seria minha nova vida e daquilo dependeria meu sucesso. Passamos por várias cidades. Meu coração renasceu, sentia uma alegria queimar meu peito, respirei fundo deixando que o ar orvalhado da manhã invadisse meus pulmões. Tinha certeza que refaria minha vida ali.
A chegada à corte da lendária Rainha Sem nome foi o que faltava para meu renascimento. Já ia me habituando aos costumes do local com facilidade, seus habitantes eram amáveis, educados e lindos. Nobres elfos que seguiam suas vidas em harmonia. Agora só me faltava conhecer os humanos.
Não demorou para que saísse ao encontro deles. Uma missão me levou as terras de Salzenmund, onde logo me tornei amiga de conde Gausser, um humano digno. Meu coração palpitou ao conhecê-lo, não por amor, mas por respeito em conhecer alguém tão honrado e amável, tanto que chegava ao ponto de alguns nobres dizerem que ele era fraco ao lidar com os elfos, o que não era verdade. Ele era sim, educado. O conde era o único que compartilhava de meu destino infeliz. Minha missão diplomática se dava entre ele e os elfos de Laurelorn, numa demanda árdua por terras cultiváveis e comida. Tudo seguia bem até me envolver mais a fundo nos problemas dos reinos.
Mas isso já é outra história.




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